SAÚDE MASCULINA: Do homem alfa a outro alfabeto do cuidado

SAÚDE MASCULINA: Do homem alfa a outro alfabeto do cuidado
O mês de novembro visa promover a conscientização sobre os cuidados abrangentes com a saúde da população masculina. O Novembro Azul, símbolo masculino no contexto de saúde, destaca a importância de levar ao debate público e meios de informação as principais doenças que acometem os homens, assim como os principais impasses deste fenômeno. As diferentes expressões do masculino e certas visões ainda hegemônicas merecem ser tematizadas.
O termo “Homem”, até recentemente, era sinônimo de humanidade. Se usava para falar não só do gênero masculino, mas também do gênero humano. Portava o significado de uma coletividade, de um aspecto e performance bem estabelecidas. Essa concepção da masculinidade, calcada na construção de um masculino universal e autorregulado, deu lugar para outras expressões e problemáticas mais realistas e concretas. Leva-se em conta com isso as especificidades e singularidades. O homem, além do pertencimento ou identificação a certo gênero, se inserem em amplo contexto social, econômico, político, geográfico e cultural. Assim, fica suscetível a adoecimento compatível com sua condição e época. Por isso, considerar as variáveis do processo adoecimento é um bom parâmetro para se estabelecer linhas de cuidado e possibilidade de lidar melhor com o processo saúde-doença desse público.
Foi considerada a natureza desse “homem” que o discurso atual da saúde do indivíduo visa promover e sensibilizar o público masculino para os cuidados e os riscos epidemiológicos mais presentes. Tais recomendações e conhecimento na área de saúde destacadas pela OMS (OPAS 2023) ajudam a promover uma agenda de atenção à saúde e também destacar os aspectos que requerem atenção.
Desse modo, as ações em saúde do “Novembro Azul”, desenvolvidas pela e Atenção à Saúde do Homem do Ministério da Saúde, consiste em fomentar, difundir e informar para sensibilizar homens, gestores e profissionais de saúde sobre o autocuidado e do cuidado integral da saúde; considerando os fatores socioculturais relacionados à masculinidade e ao seu adoecimento (Brasil, 2023). Para isso, os aspectos destacados defendem uma concepção ampla de cuidado, em diferentes etapas da vida. Que é a promoção, proteção e prevenção para saúde integral da população masculina.
Cuidado de si, riscos e sinais
Os principais aspectos de riscos voltados para a saúde do homem envolvem diversos temas. Como saúde mental, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, gerenciamento de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, prevenção de violência e acidentes, suicídio, uso e abuso de substâncias psicoativas (alcoolismo) dentre outros. Além de hábitos não saudáveis e desadaptados.
Os fatores de riscos e vulnerabilidade, sinalizam pontos que requerem atenção e cuidado no âmbito da saúde masculina. Como mencionado, a concepção de um aspecto da masculinidade, concebida de forma abstrata, expõe a necessidade de o homem atual pensar suas questões de saúde de forma concreta. Levando em conta os meios e possibilidade de cuidado.
Tematizar a saúde do homem, é retomar um fenômeno que perdura e ainda se expressa de forma importante. Comparativamente, às mulheres, com a função cultural de cuidadora, assumem responsabilidades adicionais. Comumente, são atribuídas a elas as funções de promover o cuidado no âmbito familiar de marido, pais e filhos, dentre outros entes familiares. Esses arranjos de apoio à saúde no âmbito familiar, configura o papel da mulher responsável pelos cuidados em saúde no grupo familiar e do homem descomplicado do seu processo de saúde. A aparente força do masculino, expõe a fragilidade e o descuido de si.
Masculinidades e sofrimento mental: Características e Particularidade do sofrimento mental de homens
Uma questão que é transversal e relevante nessa discussão da saúde, que merece um capítulo especial, é a saúde mental na masculinidade. As questões de saúde mental têm grande relevância sanitária internacional, assim como em contextos específicos e regionais. A incidência é de natureza multifatorial, tais condições de saúde, aqui consideradas como sofrimentos mentais, são determinadas culturalmente, como a construção da masculinidade, em que pese as problematizações para uma revisão do entendimento da masculinidade.
O modo de sofrer e também de buscar ajuda, é diferente nos homens e nas mulheres, como destaca pesquisas nacionais (Fiocruz, 2021) e dados internacionais (OMS, 2022). As questões do machismo, ou de expressão de características de certa masculinidade é presente nas atitudes no autocuidado (também descuido) e nas formas de lidar com o sofrimento. Os homens tendem a silenciar e buscar saídas mais evitativas de fuga.
Observa-se, portanto, que, embora no que diz respeito à maior prevalência de condições como o abuso de substância e sofrimento mentais ligados quadros graves, severos e persistentes, menor é o número de diagnósticos e presença de homens em espaços de saúde mental. Contudo, essa menor prevalência é resultante da ausência de busca de atenção à saúde mental. A menor prevalência de transtornos mentais comuns denota a discrepância entre a prevalência de depressão em homens – que é significativamente menor que mulheres – indicativo do subdiagnóstico do transtorno depressivo e de seu silêncio. Por essa razão, apontada pela literatura, a grande parte dos casos de suicídio está estritamente relacionada à depressão e sofrimento mental sem intervenção profissional. O documentário “O Silêncio dos Homens”, uma produção fílmica, com pouco mais de 1 hora de duração, expõe o perfil desse homem silenciado. Contém uma série de relatos de homens de diferentes grupos e faixas etárias. Tematiza a condição masculina frente à expressão de seus afetos e sentimentos. Também apresentam efeitos culturais da construção desse modelo
masculino.
Os homens são menos propensos a reconhecer sintomas relacionados ao humor, afetos, limitações e vida mental. Prevalece ainda noções de masculinidade que restringem a atenção à saúde mental. É um aspecto distinto ao de mulheres quando enfrentam estresse psicológico e sofrimento mental. Consequentemente, os arranjos incidem em hábitos e comportamentos como o abuso de álcool, a tomada de decisões exagerada de risco e a violência devido a um fenômeno descrito na psicanálise como “acting-out”. Onde falta palavra, excede ações automáticas e pouco pensadas.
São reações potencialmente danosas que contribuem para uma cultura e violência e para o sofrimento mental. Acerca de ansiedade, depressão e suicídio, dentre outros fatores de saúde mental em homens, as possíveis limitações no reconhecimento do sofrimento psicológico e os comportamentos de negação levam ao que a chamada “crise silenciosa” da saúde mental de homens.
Embora se enfatize a condição de adoecimento e meios de cuidado dos homens com caricaturistas específicas do gênero masculino, os homens se encontram também em condições semelhantes de vulnerabilidades e risco quanto a outros grupos. Os quadros de luto, depressão, ansiedade e outras expressões de sofrimento mental, é uma condição da atualidade e não é restrito a gênero, grupos específicos ou faixa etária. Desse modo, é importante que o público masculino se atente aos indicativos de seu autocuidado de forma específica, mas também, ampla. Sobretudo no contexto da saúde mental, que é comumente secundarizada por fatores culturais e sociais. A saúde mental refere-se a um contexto abrangente, depende de muitos fatores e situam, muitas esfera da vida. Por isso, é importante que as condições de saúde mental sejam abordadas profissionalmente e que se construa uma cultura do autocuidado.
Estamos aqui para nos unir pela vida. Entre em contato conosco e agende uma consulta.