Qual a função da angústia no tratamento analítico?

Qual a função da angústia no tratamento analítico?
QUAL A FUNÇÃO DA ANGÚSTIA NO TRATAMENTO ANALÍTICO?
Texto por Daniela Lima – CRP 03/18740
O que é mesmo Angústia?
A palavra angústia tem sua raiz etimológica no latim angere e no grego angor, que remetem a estreitamento, aperto. As elaborações freudianas sobre a angústia já chamavam atenção para seu caráter de estreitamento da respiração, sendo um afeto que transborda no corpo quando não encontra vias de representação psíquica. Em sua dimensão temporal, a angústia presentifica o instante em que todas as palavras estacam, marca de uma ruptura que abala as referências que localizavam o sujeito no mundo. Nessa concepção, a angústia se articula ao páthos, àquilo que afeta o sujeito, ao produzir uma descarga corporal e deixar uma marca que o convoca a uma elaboração. A palavra elaboração inclui o radical labor, que implica um trabalho psíquico ao longo de um tempo. Com isso, podemos interrogar: qual a função da angústia no tratamento analítico?
Porque a angústia é importante na clínica?
No cotidiano da clínica, a angústia se apresenta como um afeto à deriva, de modo que o sujeito não consegue lançar mão de palavras para nomear e representar aquilo que o inunda corporalmente. Em algumas situações, a irrupção de um acontecimento imprevisível desorganiza o sujeito, quando ele já não pode recorrer às ancoragens que o sustentavam na vida. Os recursos psíquicos que serviam para contornar a angústia encontram-se ausentes e, face à dificuldade de elaboração, por vezes o sujeito se precipita em saídas abruptas e radicais, como vemos nas tentativas de suicídio e em alguns atos de violência, por exemplo. Quando o sujeito não encontra vias de tratamento, a angústia produz um efeito de mortificação, de suspensão temporal, em que o passado está perdido e o futuro não pode existir como tal. Assim, a angústia em excesso e sem anteparos presentifica um descompasso radical entre o sujeito, o próprio corpo, o tempo e a alteridade.
Na clínica, a angústia promove novas construções
Por outro lado, a angústia possui também uma função protetora, ao funcionar como sinal de uma situação de perigo, a fim de prevenir e minimizar seus danos. Nesse sentido, quando mediada por uma via de endereçamento, de tratamento para este afeto que transborda no corpo, é possível circunscrever os momentos de aparecimento da angústia, de modo a localizar o ponto em que o sujeito se vê interpelado entre um impasse subjetivo e uma invenção singular a ser construída. Nessa direção, é válido ter como horizonte algumas questões: para o que a angústia insiste em apontar? De que modo ela possibilita ao sujeito, sob transferência no tratamento analítico, narrativizar sua história e implicar-se subjetivamente em sua relação com o desejo?
A angústia aponta para aquilo que é importante
Sendo assim, a angústia tem uma função de bússola e de báscula clínica, que indica, por um lado, os pontos de embaraços e impasses de um sujeito, e, por outro, os espaços abertos para que uma invenção singular possa advir. Embora a angústia em excesso paralise o sujeito, o manejo clínico do analista possibilita uma passagem do excesso a uma questão, uma inquietação que ponha em marcha um trabalho elaborativo. Desse modo, angústia não se silencia, não se elimina: angústia se atravessa. Travessia que possibilita ao sujeito transformar as linhas que se romperam numa tecitura inédita.