Dia da mulher e a sobrecarga do cuidado

Dia da mulher e a sobrecarga do cuidado

8 de Março, Dia Internacional da Mulher, a data foi definitivamente instituída pela ONU no ano de 1975, e todo ano comemoramos uma data de extrema importância histórica e simbólica. A data nos remete a conquistas importantes e grandes transformações da mulher na sociedade, um dia para nos apropriarmos da nossa história e pensarmos na potência do nosso lugar.


Estamos advertidos que os lugares que ocupamos na vida dizem respeito a nossas escolhas subjetivas, apontam para os nossos desejos e lugares subjetivos. Quando falamos sobre o lugar da mulher, falamos das possibilidades, hoje, são lugares de escolhas, de autonomia, mas também podemos falar de sobreposição de papéis com carga de trabalho intensas. A não-negociação dos papéis vivenciados pela mulher são um ponto importante relacionado a sobrecarga mental da mulher.

Por muitos anos pesquisas apontavam para uma capacidade da mulher de ser ‘multitarefas’, essa é uma questão delicada, uma ideia que por muitos anos foi perpetuada, se apoiando na ideia de que a mulher seria capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo, como um tipo de atenção ou inteligência especificamente feminina. Hoje entendemos que não podemos romantizar ou enaltecer as múltiplas tarefas da mulher, pois entendemos se tratar de um lugar de sobrecarga. A ocupação dos diferentes espaços da sociedade, como mãe, mulher e profissional, traz, muitas vezes, uma sobrecarga que impacta diretamente na saúde mental da mulher, trazendo consequências negativas para seu bem-estar emocional e psicológico.

Portanto, falar da saúde mental da mulher pode ser um tema delicado, com vias de mão dupla, entre os desejos de estar, os lugares que escolhemos ocupar, mas também de uma imposição historicamente construída  do que idealmente seria o lugar da mulher no lar e na sociedade. Ao passo em que enaltecendo as conquistas no lugar das mulheres, sublinhamos a exaustão, a sobrecarga e todas as dificuldades que derivam dessa multiplicidade de papéis.

Os dados apontam para uma população com maior incidência de transtornos mentais, aumentam os diagnósticos por um lado, e por outro os sofrimentos são cada vez mais nomeados. Mas uma coisa é fato, estamos vivendo em tempos de epidemias de transtornos mentais seja pela nomeação, seja pelas evidências de novas formas de sofrimento. Entre as mulheres os números também são alarmantes, se por um lado temos mais pessoas diagnosticadas com ansiedade e depressão, mais da metade desses pacientes são mulheres. Um estudo aponta “7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade no Brasil são mulheres, é o que afirma o relatório “Esgotadas” da Think Olga, consultoria em equidade de gênero.”

Me parece evidente apontar que a sobrecarga resultante desses múltiplos papéis pode levar a altos níveis de estresse elevados, além de fadiga, alterações do sono, esgotamento e tristeza. A população feminina tem sofrido psiquicamente, e não podemos deixar de mencionar aspectos sociais relacionados a ser a principal provedora e cuidadora.

Enquanto não conseguirmos reconhecer, pensar e discutir questões da sobrecarga da mulher, não poderemos cuidar de forma adequada das mulheres, suas crianças e famílias, não conseguiremos promover mudanças positivas na sociedade.

 

Por Elisa Teixeira I CRP 03/05658